sexta-feira, 22 de junho de 2007
quiet nights of quiet stars
está calma a noite, como é próprio do fim de Junho, na silenciosa dilatação das sombras até aos cantos da casa. mesmo à janela fechada pressinto o rumor das árvores. o ardor do solo. o grande olho amarelo dos girassóis sob os quais pasmo como se fossem templos. está calma a noite, pacífica, atlântica. o aperto no peito é o mesmo de sempre, constrangimento de saudade, é o não-aqui do teu corpo, e a promessa de um dia limpo no azul-negro que se estende sobre as ruas. qualquer coisa em mim tardou e eu atrasei-me para o verão. foi este o meu dia mais longo, de noite feita apenas para brevemente sonhar.
28 de Junho de 2004Etiquetas: little black spot, noite, you must believe in spring |
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17:53
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«Junho avança, com o Verão aberto na garganta, na sua urgência de rasgar caminho até ao fim da noite.» tenho o corpo estendido sobre o contorno da penumbra. o cansaço é acutilante e é possível que eu não esteja em mim. daqui, observo a noite inflamada, acredito - pelo silêncio por detrás da janela - que posso ver o fundo da escuridão.
26 de Junho de 2004Etiquetas: as horas mortas, little black spot, o ponto de vista dos demónios, prosa, verão |
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17:51
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que farei quando tudo arde? #1
o sol a pique riscava no chão o negro contorno de uma coluna da cidade destruída. caminhei por entre os escombros e, sob um céu despovoado, lá encontrei um vestígio do meu corpo. a minha pele desmoronada como pedra e cal.
24 de Junho de 2004
que farei quando tudo arde? #2
era uma única noite interminável, quieta e densa, não se conseguia ver o fim da sua escuridão. ausentes todos os perfumes, proibidas todas as palavras. de olhos abertos frente ao abismo se aprende o rosto das pequenas mortes.
24 de Junho de 2004Etiquetas: deserto, little black spot, prosa, reinos |
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17:50
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há homens cujo destino é atravessar o mundo, os seus desertos, os seus abismos, os seus vales, as suas praias, atravessar o mundo inteiro durante a noite, enquanto outros dormem. e se a estes homens doem os pés cansados da incerteza do caminho, é para que os que dormem possam sonhar, e estes acreditam que viram também os mais distantes lugares do mundo, e acreditam também que uma dor desconhecida lhes aflige o corpo antes do sono. e se a cada manhã tudo recomeça, é porque nunca é dado aos homens chegarem ao fim do seu destino. aqui, a noite coincide com o início do mundo. e há homens que têm muitas milhas para andar antes de dormir.
12 de Junho de 2004Etiquetas: a pedra de Sísifo, deserto, little black spot, prosa |
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17:49
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i will not go quietly into the night
aproxima-se o verão. o verão por que desenfreadamente esperei, contra todas as evidências apressando o inverno, e agora que está próximo, que o sinto no sopro silencioso das árvores na minha pele, sinto medo. na memória das longas noites em claro, o meu corpo estremce de horror. quero um verão, sim, um bálsamo para as feridas, mas algo diferente dos dias de insuportável calor de um agosto passado, no fundo, inexistente.
11 de Junho de 2004Etiquetas: little black spot, prosa, verão |
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17:48
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do ar parado entre as montanhas
posted by saturnine |
17:47
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reino #1
cheira a verão. é o ar parado, suspenso, o silêncio imóvel sobre a paisagem, ampliando o azul deserto sobre a cidade. a estrada de alcatrão arde, e ardem os meus olhos no excesso de luz dentro do automóvel, é isto um pressentimento de ferida, como uma estação que se abre, rasgando a membrana dos dias. cehira a verão, é a lua cheia, as ruas cheias de sol, e a certeza do mar por detrás dos montes e dos prédios.
4 de Junho de 2004Etiquetas: little black spot, prosa, reinos, verão |
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17:46
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a noite pela terra
ao fechar as portadas , a noite penetrou deixando no varandim os incidentes do dia, dos dias. é em horas assim que a noite chega como um sopro, vinda de lugares distantes, e nos alcança com a proximidade das coisas conhecidas, e quando nela assim entramos não há lugar para o sono, porque a noite penetra em todos os cantos de casa e enche-a do seu perfume em que, rendidos, reconhecemos a substância de um reino longínquo a que estamos prometidos.
3 de Junho de 2004Etiquetas: little black spot, noite, prosa, reinos |
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17:45
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pelos labirintos da sede
servem os dias de sol para esquecer o que dói. sobreposta luz excessiva sobre a táctil evidência da ferida, caminhamos na certeza da sombra. a terra é seca porque os templos ruíram e o céu deserto inteiro desabou sobre a claridade dos espaços, onde a água é sempre longínqua. como a saudade. serve o verão para queimar os pés no ardor do solo, que assim esquecem a dor de caminhar rente ao desmoronamento das memórias. ainda vivemos um tempo esquartejado, e ainda é ofício das mulheres que choram brotar as lágrimas nos seus escombros. mas ainda assim, porque é Junho agora, resistimos e seguimos adiante. felizmente, as mulheres continuam lindas. corajosas, elas levam as crias até onde há sombra e alimento.
2 de Junho de 2004Etiquetas: deserto, little black spot, prosa, reinos, verão |
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17:44
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Ítaca #4
agora que Ulisses repousa o merecido descanso sobre a pedra do regresso
é tempo de voltar os olhos a outros mares e deixar-me doer o coração por outras mágoas agora não tão próximas da partida e da ferida
22 de Maio de 2004Etiquetas: a intacta ferida, ítaca, little black spot |
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17:42
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Por vezes, precisávamos que tudo fosse simples
— como a luz esmorecendo sobre a tarde, o verão balouçando nas copas das árvores, os pés silenciosos no ardor do solo —
que tudo fosse simples como o amor pela terra.
22 de Maio de 2004Etiquetas: little black spot, verão |
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17:41
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explicação do verão
ouves, amor, o som dos pássaros à beira da água ou o silêncio por trás da janela fechada
são tudo sinais da linguagem muda do chão é por isso que o azul é deserto e o sol abrasador
para que reconheçamos o ardor do solo na inclinação das sombras sobre as casas vazias feridas de branco ou de excesso de luz
18 de Maio de 2004Etiquetas: little black spot, livro de explicações, verão |
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17:40
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little black spot
gostava de riscar o teu nome no chão com a cara encostada às árvores. talvez então me doessem menos as pálpebras que encerram dois sóis negros.
Maio 2003
* * *
é bom o silêncio ao meio-dia, contigo, sobre a praia. refrescamos as feridas ao pé da água, enquanto re-aprendemos o amor à sombra perfumada das amoreiras.
Maio 2004Etiquetas: little black spot, prosa |
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17:39
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sandstones
I
três pedras negras habitam a minha sede
da sua quietude se alimenta a minha fome
* * *
três pedras negras uma a uma as movo
uma sobre o abismo uma sobre o deserto
uma sob o sol.
II
três pedras negras uma a uma as movo
uma sobre a pele uma sobre o chão uma sob a ferida.
10 de Maio de 2004Etiquetas: little black spot, minimal, pedra polida |
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17:37
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Maio
parecia Maio ainda atrasado, demorado pelos arvoredos, ainda a vestir-se de folhas. Maia sobre a pedra, Maio sobre a terra, Maio sobre o pássaro. abre-se subitamente a tarde, Maio sacode no exterior a poeira fina do exílio da superfície das coisas. se por entre as nuvens, um raio de sol de escapa, é já suficiente para acender de amarelo o dia, e é já o meu reino prometido, dos lugares habitados pelo murmúrio antigos dos deuses nos jardins.
7 de Maio de 2004Etiquetas: little black spot, reinos, you must believe in spring |
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17:36
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do pão para a boca
se afinal nos cabelos de Penélope o sol brilhava se o próprio mar da Ítaca partilhava o sal das suas lágrimas então talvez seja possível começar a perdoar Ulisses — aquele que de coração magoado não aprendera ainda a regressar.
e eu sem saber que no exercício da tristeza uma outra morte se urdia que apesar do medo e da distância era clara a noite sobre a ilha.
5 de Maio de 2004Etiquetas: ítaca, little black spot |
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17:35
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:: promessa de sangue ::
sobre as pálpebras sobre os ombros o peso de um verão adiado
há-de vir o dia o sol e o seu reino claro de espaços
entretanto urdem as sombras os nosso segredos.
5 de Maio de 2004Etiquetas: dos subterrâneos, little black spot, reinos |
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17:32
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*oásis*
aqui chegamos nós à beira da água e ainda assim se cristaliza a substância da nossa sede é o silêncio o céu deserto o azul esmagador ou o sol sobre a ferida a palavra sobre o chão.
4 de Maio de 2004Etiquetas: deserto, little black spot, minimal |
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17:31
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posted by saturnine |
17:30
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o lugar das palavras
na medida justa do silêncio se constrói o lugar da palavra templo ou substância — ardendo sob o sol.
30 de Abril de 2004Etiquetas: little black spot, poesia, reinos |
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17:23
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post-scriptum
Era preciso escrever, mesmo apesar do cansaço, e da pesada fibra nocturna da penumbra. Escrever para resgatar o tempo que passa, os momentos que adiei para depois, escrever como quem procura salvar alguma coisa, sabendo bem — como Duras — que a escrita não salva de coisa nenhuma. E é verdade que os dias de sol não servem para escrever, aprendemos a guardar as palavras na margem da boca, para depois, porque a primeira urgência é apenas fruir do lento ardor do solo. Por isso se guarda este ofício para as noites, quando as sombras se abeiram da insónia, mesmo quando não há medo, mesmo quando há só silêncio pacífico. Respiro o azul-negro das horas tardias já em pressentimento do verão, a partir de agora sei que a minha estação está próxima e que em breve desenrolarei os membros entorpecidos, como asas guardadas pelo inverno. Acontece que voltei a ver com frequência o rosto diluído da mulher junto ao cais, o seu vestido branco ondulando ao sabor do vento, e sei que naquele ar há um perfume de magnólias. O mar está próximo, e sei que se caminhar, se a vir dar um passo, há-de ir pelo meio das ruas estreitas de uma vila pequena em direcção à praia, onde os muros brancos de cal ardem sobre o sol, e os amantes que passam descansam o medo à sombra das amoreiras.
27 de Abril de 2004Etiquetas: atlântica, escrever, little black spot, noite |
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17:22
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canícula
Há ainda o cansaço, apensar da canícula, ou se calhar por isso mesmo, nos olhos pesando as pálpebras, a fecharem-se como conchas, uma sugestão de tempo imóvel na vontade de deixar descair o corpo até ao chão, não render-me a nada senão à alegria sob o sol.
26 de Abril de 2004Etiquetas: little black spot, prosa, verão |
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17:21
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preparação
O pátio está silencioso ao fim da tarde. Circundado por vastos cachos de rododendros e jasmim, que emergem da cal dos muros, é o lugar exacto do sol na hora do poente. Do outro lado, a estrada negra e deserta. Nenhum ruído perturba a quietude da cena. Nenhuma voz atravessa a cidade até à praia. Lentamente, adensa-se a penumbra — quase táctil — e azulam-se as sombras, em breve a noite riscará de negros contornos os corpos que se passeiam à beira-mar. Neste silêncio, amplo e imóvel, se acontece o medo é só porque alguns olhos, adentrando a escuridão, se parecem com estrelas longínquas.
21 de Abril de 2004Etiquetas: little black spot, mediterrânica, noite, prosa |
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17:20
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praia da amoreira
1 só uma sombra negra denuncia junto à praia o hálito fresco das amoreiras
2 a luz arde nas pálpebras a claridade lisa como um espelho talvez o sal de tão vasto mar
3 ao meio-dia a estrada ferve e nós silenciamos o ardor das feridas.
19 de Abril de 2004Etiquetas: little black spot, pedra polida, verão |
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17:19
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meio-dia
Tenho as primerias páginas rascunhadas daquela história à espera, possivelmente, de uma luz maior, ou de um verão mais doloroso, para que arrancar à brancura do silêncio as palavras agudas da ausência fosse, enfim, tarefa mais fácil. Estamos imóveis perante a paisagem suspensa, é meio-dia queimando sobre o areal, os passos ardem sobre o espaço vasto. Não há uma erva que se mova, o próprio vento não se precipita para o céu deserto. A luz arde nas pálpebras, de muito contemplarem o mar ao longe. Há um carro parado na beira a estrada, um homem a olha, escavada na terra ígnea das planícies. Ao seu lado, uma mulher enverga uma camisola branca.
19 de Abril de 2004Etiquetas: deserto, little black spot, prosa, verão |
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17:18
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lugar comum
Se me mantenho silenciosa é por aproximação para com as árvores. Compreender que se as mãos se afundam na terra negra é em busca de raízes, e se o húmus vem agarrado às unhas no regresso, é para dele se constituir alimento. Permaneço aqui, no lugar desta tarde incerta, aguardando um murmúrio — de folhagens ou de deuses —, um sopro, que já não me fale da noite longa, mas do canto do vento nos milheirais. Semelhante à memória imóvel é o caminho até à praia, queimado de mudos passos, ardendo sob o sol.
17 de Abril de 2004Etiquetas: dos subterrâneos, little black spot, outonal, prosa |
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17:17
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porquê morrer? se até as aves fazem ninho sobre o mar se já a claridade invade os cantos vazios da casa se no silêncio das tardes a própria ferida se torna matéria solar
concede às palavras o ânimo inspirado de circundarem as sombras rente aos muros
diz-me — — se até das cinzas se fabrica o pão porquê morrer?
17 de Abril de 2004Etiquetas: a intacta ferida, dos subterrâneos, little black spot |
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17:16
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regresso
de coração magoado então Ulisses se demora
estranho o tardio entedimento como o leve torpor de um longo sono
compreender na distância — — pássaro ferido não se aventura a sobrevoar o mar imenso.
15 de Abril de 2004Etiquetas: ítaca, little black spot, reinos |
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17:15
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das horas mansas
dos lugares silenciosos
rente aos muros a claridade irrompe pelas janelas um quadrado azul recorta o silêncio interior
— da mesma substância da luz uma moradia de palavras habitada de contornos negros —
um canto subitamente feito claro o odor antigo do jasmim da madeira repousa na quietude das horas da tarde.
12 de Abril de 2004Etiquetas: little black spot, mediterrânica |
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17:14
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*jasmim*
a palavra circunda um ponto branco mas não apreende a substância do seu perfume
é este o odor das noites ocupando o espaço todo disponível para o silêncio
escrever — — ainda tão distante da matéria do amor.
12 de Abril de 2004Etiquetas: escrever, little black spot |
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17:13
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ÍTACA, ainda
Penélope adormecida sobre a negra noite deposita o amargo silêncio da espera.
Ulisses ausente ao largo apressa o coração magoado em direcção à ilha rochosa à terra mais firme que o sonho que o demora.
11 de Abril de 2004 Etiquetas: ítaca, little black spot, reinos |
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17:12
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dos perfumes
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17:11
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ausência
permitam-me um pouco do néctar em cuja falta padeço e morro permitam-me que me demore ao sol ou rente à claridade das varandas nada mais procuro que um sopro de verão que anime a fértil substância dos livros.
9 de Abril de 2004Etiquetas: little black spot, mediterrânica |
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17:10
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moderato cantabile #4
era inevitavelmente para isto que caminhava, estas duas palavras que são como o verão riscado sobre a memória, se entretanto já me envolvia o perfume e o enlevo da noite morna, a memória dos passos na varanda, de todos os nomes que entretanto esqueci, rostos despedaçados contra o azul e contra a exaltação das flores, ao longe um canto antigo e imenso, sem dúvida o mar, contra todo o esquecimento.
5 de Abril de 2004Etiquetas: atlântica, little black spot, prosa |
posted by saturnine |
17:09
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nocturno
é este o cheiro das noites atlânticas, dos murmúrios rente ao calor sossegado das varandas, onde os corpos repousam do ardol do sol, cheios de íntimas insinuações, como se soubessem decifrar a matéria negra do silêncio. é este o cheiro do próprio verão, das promessas feitas porque os dias são longos e justos, enfim, da própria substância do desejo.
5 de Abril de 2004Etiquetas: atlântica, little black spot, prosa |
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17:08
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posted by saturnine |
17:07
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explicação da chuva
inexplicavelmente veio a chuva. e inexplicavelmente digo porque as previsões não assentam na matéria dos meus dias, porque não são à medida dos meus sonhos os assombros meteorológicos. agora estão as janelas coloridas de cinzento, acredito que se pode ouvir o vento a bater nas vidraças, e a falta de qualquer coisa novamente assoma, como sempre acontece quando o olhar enegrece e as sombras emergem de dentro das pálpebras. é o peso excessivo das horas sobre o corpo, e custa mais olhar para cima se o céu está escuro e a tarde imprecisa. mesmo para os livros é um tempo desajustado, se há que sair para a rua, enfrentar os pingos sobre os pulsos, a estrada absorta numa quieta melancolia de luzes.
30 de Março de 2004Etiquetas: little black spot, livro de explicações, prosa |
posted by saturnine |
17:06
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moderato cantabile #3
há meses inteiros - como se não tivesse havido entretanto senão inverno - sonho com a Avenida Atlântica, com as praias desertas, com o destino dos caminhantes silênciosos nas noites perfumadas de sal, com uma mulher que caminha rumo ao cais e um navio possivelmente ancorado ao largo, em majestosa indiferença, depois um rosto de pedra com o olhar fixo no vazio, as pálpebras carregadas de sombras e o peito ardendo com qualquer coisa que se move por dentro, destrutiva, mas acima disso tudo a cadência das palavras, o ritmo exacto, a medida justa dos silêncios, o amor em carne viva riscado a negro sobre as páginas, a memória do azul mais esplêndido que conheci, esse das viagens pela estrada que arde rumo a um lugar qulquer ao pé da água, próprio para o amor ou para poesia.
25 de Março de 2004Etiquetas: atlântica, little black spot, prosa |
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17:05
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do livro das explicações
porque as heras já florescem rente aos muros porque as sombras se obliquam sobre o chão porque o ar levemente perfumado indica que estão próximos os dias das casas brancas de janelas abertas para o mar dos finais de tarde no silêncio das varandas uma memória ténue do odor das magnólias pode ser que seja Duras o livro pousado sobre o colo uma já certeza de verão mesmo se o vento ainda sopra frio nos caminhos.
25 de Março de 2004Etiquetas: little black spot, livro de explicações, you must believe in spring |
posted by saturnine |
17:04
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do silêncio ao fundo
são as sombras que flutuam como pássaros pelo fundo dos teus olhos e a noite principia no círculo negro que encerram
estar assim no silêncio da incerteza a única forma possível para o amor desconhecer ― mesmo assim tactear ― que perigos se escondem no escuro das profundezas.
19 de Março de 2004Etiquetas: dos subterrâneos, little black spot, noite |
posted by saturnine |
17:03
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preparar o equinócio
1 lidamos dia a dia com as pequenas mortes. por mim, só espero aquela que devolve à terra as folhas, que engendra das cinzas e do húmus o corpo justo que há-de vir.
2 a descida ao inferno não dura uma vida inteira só metade de nós se mistura com as sombras o resto permanece aguardando pacientemente o grão fértil que emerge sob o sol.
18 de Março de 2004Etiquetas: little black spot, mediterrânica, terra, you must believe in spring |
posted by saturnine |
17:02
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titubeando
ainda não passou ainda não é seguro que volte não é ainda tempo de assentar os pés neste chão
ouso apenas um risco para contrapôr ao silêncio
sem vestígio do hábito que matéria sustentaria os meus dias?
12 de Março de 2004Etiquetas: escrever, little black spot |
posted by saturnine |
17:01
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do sono: pequeno exercício da morte
[hypnos]
venho do lugar escuro do sono onde as palavras descansam em florestas de férteis silêncios
onde as pálpebras se tornam asas onde as feridas refrescam o ardor
— mais justa é a forma do mundo com renovados olhos abertos.
9 de Março de 2004
[morpheus]
não reclamar o que de mim permanece diluído no silêncio atravessar o denso bosque apenas para me misturar com as sombras
— mais leve é o meu corpo entre a substância fina dos sonhos.
9 de Março de 2004Etiquetas: do sono, little black spot |
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17:00
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*antecipação*
gosto do meio-dia a pique sobre a praia a hora em que o sol aperta como uma corda o desejo o silêncio o mar a pele que arde o olhar escurecido pelo excesso de luz.
8 de Março de 2004Etiquetas: deserto, little black spot, minimal |
posted by saturnine |
16:59
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verão
nos lugares mais escuros da noite no chão que arde sob o impiedoso sol de verão o nosso corpo toma a forma do silêncio
na planície lenta com as pupilas feridas pela luz o desejo faz bolha sob a pele
deitamo-nos nus sobre a terra um pressentimento de mar nos basta.
3 de Março de 2004Etiquetas: little black spot, verão |
posted by saturnine |
16:58
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resistir
não pertenço a este lugar de sombras e paredes frias — aqui só ensaiamos o calor no refúgio dos cobertores.
é inverno ainda e as minhas mãos sabem-no.
contrariar com as palavras o mundo desmedido é resistir.
3 de Março de 2004Etiquetas: inverno, little black spot |
posted by saturnine |
16:57
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os caminhos do Nilo
1 se é promessa o verão vindouro que a terra se inunde também das lágrimas caudalosas que descem desde a planície seca das histórias até ao delta dos meus olhos
2 tomamos o caminho das águas lentas porque nelas habitam as memórias dos deuses e a promessa de pão para as nossas bocas
3 aquele que há-de chegar virá do deserto e atravessará o rio em direcção a um oásis branco.
1 de Março de 2004Etiquetas: little black spot, reinos |
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16:56
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the beautiful one who has come
o tempo nega a promessa antiga de que o meu rosto seria moldado com as areias do deserto longínquo
da perfeição resta apenas o ritmo calcário da memória e do mito.
1 de Março de 2004Etiquetas: little black spot, reinos |
posted by saturnine |
16:55
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a partir de Graça Pires
a minha infância fechada numa casa branca voltada para o mar no interior o cheiro dos bolos o barulho das ondas o sol de um verão antigo cheio de risos mas também os gatos os que partiram a construção da tristeza a aprendizagem do ofício de crescer com papoilas secas nos olhos.
09 de Fevereiro de 2004Etiquetas: atlântica, little black spot |
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16:55
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posted by saturnine |
16:54
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quinta-feira, 21 de junho de 2007
dos desertos #2
aquele que ama o deserto caminhará de frente para o sol e sentir-se-á feliz e pleno com o ardor da areia no corpo, as pupilas feridas pela luz.
27 de Fevereiro de 2004Etiquetas: deserto, little black spot, minimal |
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21:49
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posted by saturnine |
21:48
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das águas caudalosas do oriente
não sei senão que o coração se me aperta se pressente a terra cujo pó não respirou
— na falta de areia para enterrar os dedos assim cubro o corpo com o véu do mito
tacteio na densa penumbra da noite longínqua um rosto de mulher em cuja sombra me eternizo.
22 de Fevereiro de 2004Etiquetas: deserto, little black spot |
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21:47
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varandas
porque a varanda é o lugar privilegiado do sol é onde a sombra se forma em colunas negras e onde o silêncio — rente à penumbra fina — transpira o hálito azul o rumor das manhãs ou o tom nocturno das praias distantes a medida justa das coisas a claridade precisa da poesia.
21 de Fevereiro de 2004Etiquetas: angularidades, little black spot, poesia |
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21:46
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para a reconstrução de um mundo puro
num quarto fechado a luz não entra — — a noite longa crava-se nas paredes habitadas de negras sombras e tu não conheces senão os estreitos corredores do medo
não suspeitas que tão pouco te separa de um reino de sol onde serias luminoso e inteiro na medida justa do teu corpo onde habita o sopro dos deuses
— se soubesses tactear a manhã junto ao silêncio em que te assombras.
20 de Fevereiro de 2004Etiquetas: little black spot, mediterrânica, reinos |
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21:45
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exílios #2
trazer o deserto por dentro ser-se o próprio corpo do sol a pique sobre a memória cavando negras sombras sobre a areia que arde sobre a saudade que ferve
ser-se a cidade em ruínas o silencio brutal entre os escombros o cansaço em que a própria sede se esgota a noite longa que se abisma sobre a ferida
mas ser-se também a manhã gloriosa a luz a entrar nas casas pelas janelas o dia novo reconstruído depois de vencida a substância do medo.
20 de Fevereiro de 2004Etiquetas: a intacta ferida, deserto, little black spot |
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21:44
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da noite interior
1 no negrume do quarto a noite pesa
2 tardia sobre os ombros descompostos de cansaço a hora hesita e circunda a frágil matéria das palavras
3 entre sombras o nosso corpo se constrói
na ferida do silêncio
4 amanhã ainda seremos vivos sob a medida precisa do sol.
19 de Fevereiro de 2004Etiquetas: little black spot, noite |
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21:43
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dedicatória
estamos aqui e é nosso este lugar de sol é possível que doa o desencontro mas não importa porque o verão está à nossa espera e há que apressarmo-nos a despirmo-nos do medo
— agosto é o nosso reino e pertence-nos a luz que habita a terra no sul.
17 de Fevereiro de 2004Etiquetas: little black spot, mediterrânica |
posted by saturnine |
21:42
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terra
1 no silêncio das profundezas alguma coisa se nomeia
é assim ter um lugar vivo garantido pelas palavras
2 auscultar a superfície da terra tactear o húmus pressentido abaixo
3 para além de tudo o que morre há o lugar escuro das palavras assim como o das cinzas sobre o solo negro contorno das coisas vivas matéria-prima do silêncio.
4 ser-se corpo fértil verde do verde que alimenta o chão.
16 de Fevereiro de 2004Etiquetas: dos subterrâneos, little black spot |
posted by saturnine |
21:41
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apesar do frio
porque nos desertos os deuses habitam ainda os lugares recônditos do silêncio aqui me sento e espero a poesia
apesar do frio
14 de Fevereiro de 2004Etiquetas: deserto, do frio, little black spot |
posted by saturnine |
21:40
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" ---------------------------------------------------------------
húmus
do Lat. humus s. m., (Bot.), terra vegetal que fornece a nutrição às plantas;
material orgânico derivado da decomposição de matéria animal e vegetal que existe (em mistura) na camada superior dos solos.
porque o corpo pertence à terra e porque os olhos são fundas raízes pela noite adentro são afinal as cinzas o nosso alimento que as mãos revolvem
— é ser-se fértil onde outros perecem matéria-prima do silêncio ou dos regressos um olhar para dentro saber
(não há nada que morra ou se esgote).
14 de Fevereiro de 2004Etiquetas: dos subterrâneos, fruto saturnino, little black spot |
posted by saturnine |
21:39
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" ---------------------------------------------------------------
[interior]
1 a casa fechada o verão demora-se pelas paredes brancas inclina-se a tarde pela praia
2 as janelas abertas de par em par um quadrado de luz rasga o silêncio o dia aureolado de azul
3 o rumor do mar ao longe os joelhos descansados sobre o chão os corredores de súbito inquietos é este o lugar que o medo habita
4 densas são as sombras negra a noite perfumada.
11 de Fevereiro de 2004
[exterior]
1 a estrada arde sob o hálito quente do deserto
2 nenhuma protecção tem o corpo contra o grande olho aberto do sol assim suspenso na paisagem
3 a pique o gume do silêncio recorta o negro contorno do lugar — aqui não perguntamos
4 dizem que os deuses andam por aqui e eu acredito se os vejo e pressinto na linha pura dos teus ombros.
12 de Fevereiro de 2004Etiquetas: angularidades, little black spot, mediterrânica, minimal |
posted by saturnine |
20:52
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auscultação da terra
há quem diga que os deuses permanecem nos lugares inabitáveis onde nenhum rumor é possível onde a terra é ferida aberta e nós
os que vagueamos à procura nada sabemos do que dizem os ventos no deserto.
9 de Fevereiro de 2004Etiquetas: deserto, little black spot |
posted by saturnine |
20:50
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a propósito de Daniel Faria
primeira explicação do amor
olha, é assim o amor cercar-me o verde dos teus olhos acolher o ardor do sol a amargura do silêncio junto à frágil negrura das sombras e beber da própria substância da nossa sede.
9 de Fevereiro de 2004
explicação do deserto
onde os outros ardem sustêm ferida assim sou eu — — feliz sob o sol.
11 de Fevereiro de 2004
explicação da luz
os ângulos da casa dobrados no recorte negro das sombras o lugar predisposto para o corpo pleno o sol queimando o chão pelas janelas
11 de Fevereiro de 2004
explicação do silêncio
o que não se sabe das profundezas da palavra o que não se pergunta
11 de Fevereiro de 2004
segunda explicação do deserto
ardem sob o sol fundas raízes mas é nesse árido sossego que a noite descansa e a água se prepara — — onde era a ferida aqui e além agora um jardim florido.
12 de Fevereiro de 2004
segunda explicação do amor
olha, é assim o amor — — a noite negra e longa que eternamente aguarda a manhã que nunca vem.
12 de Fevereiro de 2004
terceira explicação do amor
saber assim que o peito dói em vão.
12 de Fevereiro de 2004
explicação da manhã
acordar no pressentimento do orvalho respirar o ar frio rodeando as árvores seguir o dia aureolado de azul voluntariosos são os que acreditam no sol.
13 de Fevereiro de 2004Etiquetas: a ferida aberta, angularidades, deserto, little black spot, livro de explicações, minimal |
posted by saturnine |
20:48
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claro-escuro #1
os lugares vazios da terra os interiores das casas onde as sombras se habitam de vida onde o silêncio se banha de luz.
8 de Fevereiro de 2004Etiquetas: dos subterrâneos, little black spot, minimal |
posted by saturnine |
20:45
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a loja dos barros
olho a ânfora e o meu ventre em concavidade semelhante ambos silenciam a ferida que dói e se abrem guardando o lugar vazio onde as lágrimas se acomodam junto ao sal do mar.
7 de Fevereiro de 2004Etiquetas: a intacta ferida, little black spot, mediterrânica |
posted by saturnine |
20:44
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forget me not
posted by saturnine |
20:43
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à janela
posted by saturnine |
20:41
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desmoronamento
não me perguntes. de mim só sei que me doem estas noites assim bravias onde afinal nada parece de acordo com o meu improvável amor por ti.
4 de Fevereiro de 2004Etiquetas: a ferida aberta, little black spot |
posted by saturnine |
20:40
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sobre a noite
a noite, com os seus túneis e subterrâneos. as vozes que murmuram pelos cantos escondidos das ruas. uma pulsação, um ritmo, um sopro. faz-se a noite desta febre, do não saber-se o que é, de atravessar maravilhado o negro da insónia.
2 de Fevereiro de 2004Etiquetas: little black spot, noite, prosa |
posted by saturnine |
20:39
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apontamento
sabes que escrevo com as mãos frias. escrevo como quem escava, violento os dedos pálidos que desfalecem no rigor do inverno no interior deste quarto. há uma janela fechada e um telefone que hoje não toca. recordo vagamente este lugar, noutros tempos. recordo o mesmo frio, o mesmo canto escuro que tudo sabe de mim, este mesmo aperto no peito que é a minha respiração interna, e sempre sempre sempre a falta de alguma coisa, de um suspiro teu, um sopro, um afago, ou um vento quente pela noite, qualquer coisa que me acolha. há-de passar. a noite longa não durará para sempre. há já cheiro a pêssegos nos teus cabelos.
30 de Janeiro de 2004Etiquetas: do frio, escrever, little black spot, prosa |
posted by saturnine |
20:38
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moderato cantabile #2
no interior da casa o cheiro antigo dos livros e o quadrado azul do verão a claridade densa na janela e um odor conhecido invade o quarto desde o jardim é agosto coroado de sol na cidade que arde no silêncio das tardes assim brancas voltadas para o mar
existe uma mulher nessa casa um piano velho que murmura e o perfume das magnólias como se não houvesse outro no mundo.
31 de Janeiro de 2004Etiquetas: atlântica, little black spot |
posted by saturnine |
20:37
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Janeiro desmente o auge do inverno em cada manhã de sol mais próxima a liberdade e o azul.
21 de Janeiro de 2004
tardes de Janeiro
I
No final das tardes de Janeiro o azul possível é mais meu inteiro como um quadro absoluto como os mares
e eu pertenço a esse ar mais livre cheio de rigor e de verdade.
29 de Janeiro de 2004Etiquetas: little black spot, tardes de janeiro |
posted by saturnine |
20:36
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moderato cantabile
moderato cantabile
aquele vulto além no cais ou a sombra que se estende pela avenida em brasa o perfume estonteante das magnólias transpirado no ar do verão talvez os meus passos incertos arrastando qualquer coisa pelas ruas ou a tarde que cai sobre os muros alheia ao murmurar das casas por entre os jardins
o tom atlântico das palavras os dedos que ardem sobre os livros.
26 de Janeiro de 2004Etiquetas: atlântica, little black spot |
posted by saturnine |
20:35
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dos rostos desconhecidos #1
sobre Remedios Varo, Cazadora de Astros
dos lugares ensombrados espessos do negro da noite fiz o meu reino e viajo próxima do murmúrio dos deuses em fragmentárias explosões de luz semelhantes aos ritmos do silêncio.
29 de Janeiro de 2004
dos rostos desconhecidos #2
sobre Jean Delville, Madame Stuart Merrill
o último lugar possível da palavra no negro contorno dos lugares impossíveis da terra uma floresta de sombras um reino de espectros de luz preenchem as horas mortas do meu olhar ausente.
29 de Janeiro de 2004
dos rostos desconhecidos #3
sobre Modigliani, Madame Zborowska
mas há ainda os lugares pacíficos os escolhos do silêncio ou um hábito de serenidade sobre a face
os lugares escritos por entre paredes brancas os corredos tranquilos onde os monstros - ou os astros - dormem.
29 de Janeiro de 2004Etiquetas: dos rostos desconhecidos, little black spot |
posted by saturnine |
20:34
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Ítaca #3
eis que vieste. mas não saberei dizer se voltaste porque é sepre outro que regressa diferente daquele que partiu esse que fica para sempre na bruma
mas pode ser que também eu seja outra - que menos saiba do que dói - não aquela que espera mas a que fez das noites longas o seu ofício.
26 de Janeiro de 2004Etiquetas: ítaca, little black spot, reinos |
posted by saturnine |
20:33
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:: do silêncio interior ::
pesam-me as pálpebras e os ombros porque a noite é longa e as árvores que morrem não sopram qualquer rumor que certifique a presença dos deuses no vento que corre pelos desertos.
26 de Janeiro de 2004Etiquetas: deserto, little black spot, pedra polida |
posted by saturnine |
20:31
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a partir de Daniel Faria
o que dói é aguardar-te por entre as sombras
tu que te demoras enquanto a eternidade se me acaba nas mãos
diz-me agora desses desertos azuis por onde te perdeste noutros braços eu que só conheço esta noite longa em que na espera me desfaço.
20 de Janeiro de 2004Etiquetas: a ferida aberta, little black spot |
posted by saturnine |
20:30
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sob os plátanos
estas são as árvores das ruas da minha infância são estes os corredores onde aprendi o amor e o medo o negro da noite o sol do inverno sob uma cúpula de ramos
são estas as árvores que guardam o que resta da minha infância silenciosas desde então desde que se acabaram os meus passos sobre o granito das ruas.
22 de Janeiro de 2004Etiquetas: little black spot, sycamore |
posted by saturnine |
20:29
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se soubessemos dos limites da noite não caminharíamos sozinhas pela terra em busca do lugar onde caem as estrelas nas nossas mãos.
20 de Janeiro de 2004Etiquetas: little black spot, minimal, noite |
posted by saturnine |
20:28
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alguma coisa me lembra que o tempo e a doçura se querem brandos mas seguros que a paixão existe.
20 de Janeiro de 2004Etiquetas: little black spot, minimal |
posted by saturnine |
20:27
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as horas mortas
posted by saturnine |
20:26
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[promessa]
carrego nas mãos os destroços da cidade antiga suas ruas suas arcadas seus templos suas luminosas colunas de sal e toda a ruína me cabe neste gesto
pode ser que a noite longa esteja ainda para findar é duro o inverno mas certa a promessa do corpo
se qualquer coisa aqui se acaba pode ser que seja o medo afinal enfim que os fantasmas morram ou que seja livre a substância do meu sono.
13 de Janeiro de 2004Etiquetas: angularidades, little black spot, reinos |
posted by saturnine |
20:25
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" ---------------------------------------------------------------
Re: Re: Re: Ítaca revisitada
enquanto Ulisses voga ébrio do azul imenso e esplêndido dos desertos na fragilidade da distância uma ilha improvável se desfaz
enquanto Ulisses contempla e sonha - Circe, a caverna, as aves de partida - dorme Penélope, abandonada e triste
[também o tempo a memória os afectos são desertos]
14 de Janeiro de 2004Etiquetas: ítaca, little black spot, RE: de mail |
posted by saturnine |
20:24
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" ---------------------------------------------------------------
posted by saturnine |
20:21
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" ---------------------------------------------------------------
:: os frutos ::
prolongo a acidez, recordo noites distantes, o vento na face, o rio para lá da estrada, a claridade inesperada da imensa noite negra. aconchego a saudade como um fruto. sacio a sede de palavras na acidez que imagino.
27 de Dezembro de 2003Etiquetas: fruto saturnino, inverno, little black spot, prosa |
posted by saturnine |
20:20
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" ---------------------------------------------------------------
assim o inverno
chega o tempo das laranjas. das camisolas brancas, dos cachecóis às riscas, das mãos que finalmente sucumbem às luvas, gelando por baixo da lã a ausência habitual. é tempo de abrir as janelas de par em par, deixar entrar a claridade breve das manhãs de sol. é quase tempo dos dias que crescem. se fecho os olhos por um instante, se me descuido, é subitamente verão e não fechei ainda todos os livros espalhados pela casa. sento-me na pedra fria e murmuro palavras improváveis. espero-te ainda.
é tempo de laranjas de dedos em ferida descascando gomos de um corpo semelhante ao sol que transporta em si qualquer coisa doce ácida escarlate necessária para que seja possível conhecer-se o sabor de Janeiro.
27 de Dezembro de 2003Etiquetas: fruto saturnino, inverno, little black spot |
posted by saturnine |
20:10
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" ---------------------------------------------------------------
"as praias desertas continuam"
nem sempre a tristeza é triste por vezes é só outra coisa qualquer camisola velha pousada esquecida num canto escuro do armário mas na malha ainda a ideia prometida da ternura qualquer coisa como Jobim a rasgar a noite, uma inútil paisagem
e se é inverno e as mãos gelam e o peito dói imagino o abraço o cobertor a fogueira aqueço-me na própria ideia do calor.
16 de Dezembro de 2003Etiquetas: a ferida aberta, inverno, little black spot |
posted by saturnine |
20:08
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" ---------------------------------------------------------------
:: estremecer ::
olha o meu peito aberto em flor grita arde lateja mas vive estremeço * - que é esvaziar-me o meu ofício - no que abandono, no que te dou é que existo.
* do Lat. extremescere v. tr., fazer tremer; causar tremor a; abalar, sacudir; sobressaltar, assustar; amar em extremo.
12 de Dezembro de 2003Etiquetas: a intacta ferida, little black spot |
posted by saturnine |
20:07
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" ---------------------------------------------------------------
apesar da noite
mas há ainda a noite sob os cobertores macios uma presença morna para dispersar o cansaço um lugar de aconchego - ainda que remoto e precário - para que os medos se desmontem
como é terno o desencontro quando sossega este choro imperceptível.
12 de Dezembro de 2003Etiquetas: little black spot, noite |
posted by saturnine |
20:07
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" ---------------------------------------------------------------
inverno #1
camisolas brancas cachecóis às riscas um sobretudo cinzento as mãos perdidas pelos bolsos as ruas vazias um telefone mudo o aperto da saudade - as palavras mais cortantes que antes - assim se constrói este exílio dos dias frios.
6 de Dezembro de 2003
inverno #2
é assim as mãos geladas os passos tristes pelo passeio as próprias ruas em cinzenta amargura de te ver partir
6 de Dezembro de 2003
inverno #3
chove por dentro destes buracos no peito dói o frio nas mãos vazias - porque o inverno não é feito senão de mãos que gelam - e nas ruas acaso algum engano me leve aos lugares onde não estás enegrecem as sombras sopra o vento mais forte irado e triste.
6 de Dezembro de 2003Etiquetas: inverno, little black spot |
posted by saturnine |
20:06
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" ---------------------------------------------------------------
à luz fria de novembro por entre as ruas, por entre as árvores no espelho iluminado do rio, o vento balançando as sombras presas aos pés e nós com as mãos perdidas pelos bolsos o teu rosto aceso possivelmente como as noites de inverno afinal se tecem de uma inexplicável claridade.
26 de Novembro de 2003
[dezembro]
ser o nome que o frio divide a cidade estranha onde tu faltas onde o vento sobra nas árvores as mesmas mãos mas perdidas pelos bolsos como pedras lisas que olho atravesso e pergunto se ainda sabem coisas de ti.
27 de Novembro de 2003
[do frio]
à falta de um abrigo para dezembro aqueço-me na memória distante da estrada que arde sob o sol da tarde lancinante atrás dos montes onde aprendemos no sal da pele a lentidão dos dias [não havia ainda mundo para conquistar nem morte que se anunciasse]
27 de Novembro de 2003Etiquetas: do frio, inverno, little black spot |
posted by saturnine |
20:05
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[tacto]
olha repara como as paredes te olham como as próprias sombras sabem que tens medo do lugar escuro daquele canto que tudo sabe e por isso avançam sobre ti carregadas de dedos e de pálpebras.
25 de Novembro de 2003
carregadas de dedos e de pálpebras avançavam para mim do canto escuro e de outros sítios improváveis à luz fria de novembro - o mais terno dos meses afinal
26 de Novembro de 2003Etiquetas: aquele canto escuro que tudo sabe, epidérmica, little black spot |
posted by saturnine |
20:03
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[little black stone]
Minha pedra de peito onde mordo onde morro onde estás morto movo-te.
escrito por P.
os dedos em estilete corto a fundo pela carne magoada encontro um pequeno buraco negro substituo o coração por uma pedrinha preta.
22 de Novembro de 2003Etiquetas: little black spot, pedra-coração |
posted by saturnine |
20:02
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" ---------------------------------------------------------------
posted by saturnine |
20:01
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" ---------------------------------------------------------------
surpreendo-me a consultar os males comuns em busca do que me distinga surpreendo-me, insistentemente, a dispersar a morte com as mãos mas a sua matéria escura trago-a agarrada aos dedos o peito desarranjado desmanchado e é assim que a morte vai cobrando a negrura que lhe devo de tanto conversar com um canto que só me diz de mim o que morre.
4 de Novembro de 2003Etiquetas: aquele canto escuro que tudo sabe, little black spot |
posted by saturnine |
20:00
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" ---------------------------------------------------------------
dizer deste gosto pela obscuridade a simpatia pelas sombras disformes pela escuridão aguda que se passeia pelas paredes anoitecidas ou ainda pelo que há de improvável nestas horas de delírios contidos encenados como se em cada coisa na própria casa flutuasse a transparência da morte.
20 de Outubro de 2003Etiquetas: little black spot, noite |
posted by saturnine |
16:00
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" ---------------------------------------------------------------
[da terra]
se conheço alguma coisa da terra é este chão de cinza sob os pés a certeza de um inferno mais abaixo onde os corpos dançam e os quartos se pintam se sombras para afugentar a noite.
19 de Outubro de 2003Etiquetas: dos subterrâneos, little black spot |
posted by saturnine |
15:59
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" ---------------------------------------------------------------
para habitar um quarto que nada saiba de mim mudei a cama para um espaço sem cantos o quadrado da janela acima dos ombros só me custam ainda os primeiros minutos em que acordo com o rasto de uma memória presa ao interior dos olhos nas pálpebras cerradas do meu coração escangalhado.
17 de Outubro de 2003Etiquetas: aquele canto escuro que tudo sabe, little black spot |
posted by saturnine |
15:58
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" ---------------------------------------------------------------
[recado]
agora que sei que não vens não me aflige não esperar-te aflige-me apenas o que deixamos para trás e o tempo todo que falta até que a minha vida se cumpra.
13 de Outubro de 2003Etiquetas: a intacta ferida, little black spot, minimal |
posted by saturnine |
15:57
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" ---------------------------------------------------------------
Re:
Sofro de um prolapso sistólico da válvula mitral que desde a infância determina que não sou capaz de grandes corridas, que o peito frequentemente se me aperta em palpitações confrangedoras, que um mal de ansiedade gritante ocupa os meus dias. Os meus passos traduzem-se em respiração ofegante, as minhas noites em longas lutas contra o cansaço. Tenho uma relação frágil com a minha seratonina, invento pretextos para que o desequilíbrio se desfaça, e todo o meu tempo é passado no constante sobressalto de não saber sossegar. Custa-me o tempo que não passa. Indigna-me a mediocridade, a criança que não é incentivada a consultar o dicionário. Arrebata-me a preguiça.
17 de Outubro de 2003Etiquetas: little black spot, prosa, RE: de mail |
posted by saturnine |
15:56
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" ---------------------------------------------------------------
RE: Re: Re:
Um dia aprendi que quando os olhos se abrem é para sempre. Que uma vez visitado o deserto passamos a transportá-lo connosco sob a pele. Mesmo este mundo, que não era o que os meus olhos queriam ver, agora acomoda-se à forma aberta do meu olhar. Aprendi que o buraco que tenho no peito não decresce, não diminui, não fecha, não substitui. Está presente, por vezes adormecido, por vezes silenciado, por vezes morno como a pele debaixo das camisolas de lã, outras tantas grita, lateja, ferve na sua polpa de ferida aberta. Prova-o esta minha existência constante de soluços cardíacos. Um dia, como tu, entristeci demais, e não há regresso ao antes disso. Trago sombras nos olhos, umas vezes nota-se outras não. Ainda temo o apagar da luz, não gosto de acordar cedo, não gosto de ser chamada às tarefas mundanas. Escrevo, sabendo que nenhuma palavra alcança o mundo. Sonho, sabendo que a matéria dos meus sonhos não se compara ao contorno vivo de uma ausência.
16 de Outubro de 2003Etiquetas: little black spot, prosa, RE: de mail |
posted by saturnine |
15:55
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" ---------------------------------------------------------------
Re: Re:
O que sei de mim é pouco mais que os pés irremediavelmente gelados no inverno, o transtorno que é recordar um amor que se despediu no verão, a cicatriz funda abaixo do joelho esquerdo que não me deixa esquecer que em criança não quis aprender a andar de bicicleta. Tenho medo do escuro e do que nele habita, custa-me o primeiro silêncio da noite e a resignação de apagar a luz. Gosto dos cachecóis de muitas cores e de camisolas brancas em Dezembro, gosto do barulho dos comboios na estação, gosto dos gatos pequeninos quando ainda não têm senão garras e orelhas. O meu pecado mortal é a preguiça e o mal de que sofro é de intimismo excessivo. Tenho os olhos carregados de sombras e uma promessa de azul nas pálpebras cerradas. Um dia recriei-me numa figura que habita o papel, de olhos esbulhagados para o vazio.
13 de Outubro de 2003Etiquetas: little black spot, prosa, RE: de mail |
posted by saturnine |
15:54
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" ---------------------------------------------------------------
Re: Re:
o canto escuro do quarto, conhece-lo bem é sua a mesma matéria triste dos meus ombros e eu já não reconhecia esse canto, já não sabia que as portas portas fechadas rangem ao abrir e lá do fundo um rumor se passeia pelas paredes porque as mesmas sombras habitam o seu negro quando entro não sei de mim mas ele sabe esse canto o que te assombra e fala contigo, aquele a quem te confessas, aquele que sabe tudo.
13 de Outubro de 2003Etiquetas: aquele canto escuro que tudo sabe, little black spot, RE: de mail |
posted by saturnine |
15:52
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" ---------------------------------------------------------------
domingo, 10 de junho de 2007
[canto]
posted by saturnine |
15:52
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" ---------------------------------------------------------------
posted by saturnine |
15:50
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" ---------------------------------------------------------------
Medusa
Na pura face do horror resta um brilho antigo de estátua e as duras linhas que se movem sobre a pele calcária de súbito se fazem translúcidas e livres
flutuam pelo ar abraçadas de silêncio e de morte.
10 de Outubro de 2003Etiquetas: little black spot, pedra polida, reinos |
posted by saturnine |
15:49
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" ---------------------------------------------------------------
assombro pelo dia de hoje #1
de que é que me lembro? que equívocos terei para contar quando já não houver vestígio deste vento? a certeza de que cada Outono é irrepetível, que não se detêm as mesmas ávores para que se aprenda o amor sob os seus ramos. não há uma única casa de paredes brancas na minha memória. invento a passagem dos dias como entre corredores estreitos e camisolas de lã. de que me lembro do que não fizemos?
6 de Outubro de 2003
assombro pelo dia de hoje #2
quanto tempo ainda até que das pedras cresçam árvores como cabelos? o cansaço assemelha-se a um pedaço de terra, como um peito cavalgado, um chão magoado que não sabe ainda ser húmus. quanto tempo até que o negro da ruína, ou a dor que ribomba sobre os ombros, encontre um outro corpo qualquer para desfigurar, ou talvez outras cordas para torcer?
8 de Outubro de 2003Etiquetas: assombro pelo dia de hoje, little black spot, prosa |
posted by saturnine |
15:47
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" ---------------------------------------------------------------
simplificando a geometria da paisagem #1
sob os plátanos se desencontra a noite muda do tempo prometido ao amor.
3 de Outubro de 2003
folha a folha o abismo estende-se leito certeza irredutível da morte abandonada das árvores
[gota a gota em carne e cinza me desfaço].
4 de Outubro de 2003
carregado o dia de horas impossíveis e de ramos negros a nudez prometida das árvores
[na sombra viva me despeço deste mês feito engano]
4 de Outubro de 2003
para que Outubro passe para que o vento venha para que o fruto caia algo em mim se destroça e arde em soluços
[neste corpo de fogo e chão em polpa e terra me desmancho].
4 de Outubro de 2003
simplificando a geometria da paisagem #2
as ruas ladeadas de plátanos esqueceram quem somos por onde passámos.
8 de Outubro de 2003Etiquetas: little black spot, minimal, outonal, simplificando a geometria da paisagem |
posted by saturnine |
15:46
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" ---------------------------------------------------------------
por tua causa recordo a infância vertebrada de afectos
por tua causa, o cheiro das uvas nas urzes dos montes
se me falam de figos de mesas de Natal de sol gelando na face ou de qualquer outra coisa densa próxima táctil
acredito na intimidade das sombras na natureza outonal do meu nome.
22 de Setembro de 2003Etiquetas: fruto saturnino, little black spot, outonal |
posted by saturnine |
15:45
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" ---------------------------------------------------------------
outonal #1
hoje senti o cheiro das uvas o negrume adoçando os dedos bago a bago o outono deflagra
e eu ouço o canto triste dos plátanos os passos dúbios da chuva como se em algum lugar houvesse pão a cozer e um fogo dentro de casa noite escura pela tarde ainda a meio
e recordo os risos em volta da escola os joelhos esmurrados doridos esse tom de infância que nunca mais terei.
15 de Setembro de 2003
outonal #2
o lamento visível é o corpo que não volta a fazer-se tenro como a promessa de que há-de crescer
e nunca mais agora poderei abraçar um plátano com braços insuficientes nem cair da bicicleta para os silvados de amoras ou sequer aquietar um pássaro nas minhas mãos de criança
se não fui a tempo de rir todos os risos cair em todos os caminhos sonhar todas as histórias talvez agora encontre uma sucessão de passos semelhante à memória das sombras na parede do quarto dos casacos para enfrentar o vento dos inesperados labirinos do medo
aguardo um Outono pacífico um outro silêncio que não este um poço de folhas para pousar o corpo agora desmesurado amedrontado e espectante.
22 de Setembro de 2003Etiquetas: little black spot, outonal |
posted by saturnine |
15:44
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" ---------------------------------------------------------------
arrisco tão só esgravato a terra com as unhas sujas cortadas pobres
mas é na pedra que risco que deixo o sangue e pedaços de pele o pouco de mim que sobra para gastar num voo rente ao chão
porque é precário ainda este solo de urzes e cardos entrelaçados e eu aqui esperando flores. .........................................
15 de Setembro de 2003 |
posted by saturnine |
15:42
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" ---------------------------------------------------------------
[poema de um desamor contínuo]
não é certo que me exiles que das tuas mãos nada cresça senão as pedras
o tecido desgastado do silêncio está já esticado à beira da ruptura um arco demasiado tenso que arrisca rebentar-me nos braços
este solo pisado e magoado vezes sem conta suspira já o cansaço de ser ruína ponte tactando lugar nenhum senão o degredo a que me votas
não posso mais - porque não posso - dar-me a este desconsolo nem a noite é já suficiente para que qualquer coisa se resgate
agora quero apenas a calma ou alguma coisa parecida um rumor imprevisto improvável
tudo menos este silêncio esta brutalidade com que pela indiferença me aniquilas.
3 de Setembro de 2003Etiquetas: a ferida aberta, little black spot |
posted by saturnine |
15:40
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