segunda-feira, 21 de maio de 2007
(será que arrisco?)
o corpo inflamado pela violência de outro corpo que falta à noite incandescente.
(a boca destinada à terra as unhas destinadas às cinzas)
29 de Dezembro de 2004Etiquetas: a intacta ferida, escrever, little black spot |
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19:40
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...and miles to go before I sleep #1
aprende-se a sobrevivência comendo a terra de queixos no chão. perante as folhas, os ramos, as cinzas, somos sempre seres inferiores. mas resistimos. a tudo aprendi a dissolver, menos os inesperados assaltos da memória e dos cheiros. por isso as ruas cheias de gente bem vestida e perfumada são lugares muito perigosos,e o vago apelo de uma música pode fazer emergir novamente o ardor de agosto em pleno inverno.
18 de Dezembro de 2004
...and miles to go before I sleep #2
porque me acenas à beira da água e me deixas à míngua na margem da sede?
30 de Dezembro de 2004Etiquetas: a pedra de Sísifo, little black spot |
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19:38
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19:21
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interior
a noite sobe os montes é tempo de preparar o aconchego para os mortos.
7 de Outubro de 2004
outonal
o medo desce a encosta onde a noite é escura lá no alto, o vento ruge.
8 de Outubro de 2004
reino
do alto da serra a própria noite vigia os caminhantes
16 de Outubro de 2004
quadro
todo o dia arrasto atrás de mim uma surdina, um rasto de outono. negras caem as noites, em fogo caem as folhas.
16 de Outubro de 2004
abismo
onde a noite é ampla e o silêncio profundo mesmo o arvoredo é negro e insondáveis são até os caminhos do medo.
20 de Outubro de 2004
precipício
na estrada cavada na serra se a chuva enegrece a tarde o medo faz-se vertigem.
31 de Outubro de 2004Etiquetas: little black spot, minimal, os montes habitados |
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00:22
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sábado, 19 de maio de 2007
*o sal na ferida*
três cordas tensas disputam o ponto exacto do desassossego uma ponte ou uma torre ou um arco ruindo na desolação destes dias inúteis.
qualquer coisa podia acontecer se apenas um vento breve soprasse
mas tudo reside incerto e imóvel um mesmo silêncio agudo a rodear-me como espuma descontente de ser branca e fria.
se ao menos um vento brando soprasse e qualquer coisa acontecesse
um barco ou navio ou jangada cruzasse o horizonte distante eu não tivesse de me fazer ao mar
tão despreparada
tão nua tão despida de ti.
1 de Setembro de 2003Etiquetas: a ferida aberta, little black spot |
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21:45
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*inquietude*
afinal regresso ao lugar incerto onde apesar de tudo ainda não sei se o mundo avança ou se detém.
26 de Agosto de 2003
*espanto*
é no mesmo espanto inicial do chão que recebe o primeiro sol que pode o amor renascer do deserto
como se de súbito florissem papoilas no meio das pedras.
27 de Agosto de 2003Etiquetas: little black spot, minimal, pedra polida |
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21:44
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o planeta vermelho parte, Agosto também
porque pressinto que o verão já se esgota como animal acossado pela tempestade próxima
agarro-me aos farrapos de azul das horas difíceis sabendo que o tempo não abranda não sossega mais ainda assim
imploro e espero que deixe ser Agosto por mais um momento.
29 de Agosto de 2003Etiquetas: little black spot, minimal, verão |
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21:43
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Eurydice
não há fonte ou ânfora bastante para as lágrimas todas que tenho para chorar-te.
18 de Agosto de 2003Etiquetas: little black spot, reinos |
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21:40
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Ítaca #1
se é possível que Ítaca dure para sempre que a espera não se extinga nunca
será possível também que Ulisses não regresse jamais que a noite encontre Penélope finalmente adormecida sobre o tempo não desfiado.
18 de Agosto de 2003
Ítaca #2
é uma densidade que de súbito se faz aérea e livre os caminhos ausentes de passos constroem o lugar comum e uma transparência inesperada emerge do caos das sombras
a teia dos desencontros desfaz-se na primeira areia que inicia a ilha e um manto ébrio de significados revela-se no espelho claro das águas
o lugar converte-se em pressentimento que em Ítaca qualquer coisa fará sentido.
25 de Agosto de 2003Etiquetas: ítaca, little black spot, reinos |
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21:39
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búzio do árctico #3 [triptíco]
[Hécate]
três rostos tem a noite ainda que só a tua ausência perdure
[Selene]
três rostos tem a noite ainda que só a tua ausência perdure e um silêncio de morte entoe todos os segredos que habitam a escuridão como teias desfeitas de amores destroçados.
[Perséfone]
três rostos tem a noite ainda que só a tua ausência perdure e um silêncio de morte entoe todos os segredos que habitam a escuridão como teias desfeitas de amores destroçados.
deixo os nomes incorruptíveis - que a noite também morre - suspensos pelos ramos onde as deusas estremecem a cada regresso que não se reveste de eternidade.
com Sandra Costa
24 de Agosto de 2003Etiquetas: búzios, little black spot |
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21:38
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*clímax*
para lá do quadrado negro da janela a noite de novo aureolada de incêndios é o solo que arde na memória dos corpos
o céu em rítmicas convulsões explode num luar vermelho.
11 de Agosto de 2003Etiquetas: little black spot, minimal, noite |
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21:37
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*atlântica*
[motivo]
porque me aconteceu ser um corpo atlântico:
[construção]
este é o tempo das magnólias eternamente em flor da brancura luminosa e fresca das paredes de cal do silêncio quebrado nas amuradas junto à praia do absoluto quadro azul da janela frente ao mar
este é o tempo em que o verão cai a pique sobre os ombros nus que sustentam o sol sem qualquer protecção contra a noite
este é o tempo de explicar os pássaros que voltam as planícies que doiram o contraluz da ausência.
[resolução]
as palavras repousam, mediterrânicas, na sustentação do invisível.
11 de Agosto de 2003Etiquetas: atlântica, little black spot |
posted by saturnine |
21:36
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búzio do árctico #2
Procura-se uma árvore onde pousar o desassossego libertar dos ombros o estival peso dos desertos arredondar os cumes de silêncio que exalam das noites planas onde tu não estás para contrapor ao vazio o promontório tranquilo do teu corpo
- onde sempre encontrei o inacessível, brandos gumes de rosáceas a lenta claridade dos templos -
que árvore atenta conseguirá sustentar o invisível?
com Sandra Costa
9 de Agosto de 2003Etiquetas: búzios, little black spot |
posted by saturnine |
21:35
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[tríptico + resolução]
porque é verão agosto passa e o mar tarda ainda não há tempo ou alma que baste para desperdiçar em muros despidos janelas fechadas braços ausentes
ou senão em poemas construções rítmicas estivais porque há um céu que arde e um perfume de sal e uma lua que aguarda o rumor brando das planícies
por isso é urgente que as palavras circunscrevam as praias brancas os desertos os lugares ao sol antes que o outono venha ensombrando os pinhais
com seu terno cântico de morte.
10 de Agosto de 2003Etiquetas: deserto, little black spot, verão |
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21:34
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há dias assim. hoje, de todo, não me apetece a poesia. é que não há uma fibra que seja em mim que me peça a poesia. deve ter sido certamente deste calor desconcertante ou do transtorno que é lembrar-te.
9 de Agosto de 2003Etiquetas: escrever, little black spot, poesia |
posted by saturnine |
21:33
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E há-de chegar o momento em que aquele que eu recordar já nada terá em comum contigo. como já nada há de comum no vazio dos lençóis com a substância do sono partilhado
o silêncio estende-se como um lago em que divaga a flor da incerteza
e pode ser que aconteça um dia esquecer-me de querer-te ainda
se te demoras a resgatar o que amo no teu rosto
do que houve antes de possível e eterno.
6 de Agosto de 2003Etiquetas: dos rostos desconhecidos, little black spot, substâncias |
posted by saturnine |
21:31
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dualidade para uma Balança
Os peixes que passam diante do meu olhar e a certeza de que o mundo existe a inexcedível liquidez desta mar compõe a firmeza dos meus passos um vidro claro através do qual todas as coisas se me afiguram tangíveis
como se a certeza fosse possível diante de tão grande equívoco como o de habitar uma existência frágil entre a precária incerteza da morte e o colorido vivo dos sonhos.
...
Começarei a escrever no instante em que partires até então a vida não é senão espera paisagem suspensa desastre iminente como se no seu núcleo cada coisa aquietasse uma semente de amor ou de morte.
6 de Agosto de 2003Etiquetas: atlântica, little black spot |
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21:30
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búzio do árctico #1
é puro desenlace a matéria âmbar destas tardes perdi-te onde o caule das nuvens se parte entre os dedos e ainda agora me parece inverosímil este céu todo sobre os ombros
como insustentável é a tua ausência sobre a decisão de não mais contrariar a ruína há muito anunciada
e se todas as fórmulas com que me concedo a chuva são possíveis é para que um pouco de mar lave esta pedra do meu peito
só assim em cada fim de tarde o desenlace é perfeito como um círculo, matéria âmbar dos regressos
com Sandra Costa
5 de Agosto de 2003Etiquetas: búzios, little black spot |
posted by saturnine |
21:29
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[mediterrânica]
plenitude, inflamação e queda aguarda-me a mansidão das pedras de todos os muros desmoronados
a luz entrecortada de ângulos escapa-se pelas frestas das ruínas
onde era aqui um templo agora apenas sol e sombra
memória mediterrânica do que não chegamos a ser.
5 de Agosto de 2003Etiquetas: angularidades, little black spot, mediterrânica |
posted by saturnine |
21:28
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[se de vento se de morte]
neste campo escondido não há vestígio da noite incendiária uma calma estival contudo rodeia de estranheza esta noite incolor
e um pressentimento de tempestade agrava o rumor que sopra nos pinheiros
mas não sei se de vento se de morte.
4 de Agosto de 2003Etiquetas: little black spot, noite |
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21:27
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angularidades #6
tudo o que restava foi perdido os lugares de sal a planície deserta o azul que arde.
que curva imprevista terá dissipado a hora da solúvel eternidade?
que descuido ou desastre dissolveu a matéria pobre do amor
e deixa o verão em estilhaços?
4 de Agosto de 2003Etiquetas: angularidades, little black spot, verão |
posted by saturnine |
21:26
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deste lugar imprevisto oponho-me ao calcinar do tempo abro o sal da ferida sustento-o na recordação do mar
e acontece doer-me por vezes esta coisa qualquer que falta ao mundo
para que sejamos um.
4 de Agosto de 2003Etiquetas: angularidades, little black spot |
posted by saturnine |
21:25
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*inflamação*
é o próprio silêncio que arde no quadrado vivo da janela de onde olho a noite sem cor.
3 de Agosto de 2003Etiquetas: little black spot, minimal, noite |
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21:24
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sou um girassol e no fundo dos meus olhos brilham dois sóis negros
um girassol habita o azul o silêncio agudo da paisagem um pé queimando a sombra.
2 de Agosto de 2003Etiquetas: girassol, little black spot, minimal |
posted by saturnine |
21:23
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[inesperadamente verão]
ao fim do dia a estrade arde sob o seu pulmão verde de sombras.
29 de Julho de 2003Etiquetas: little black spot, minimal, verão |
posted by saturnine |
21:21
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*predisposição*:
na palma da mão um sonho vago: um coração de pássaro.
26 de Julho de 2003
*acerto*:
enquanto divaga a nuvem todo o sal e toda a água: parco vestígio dos teus olhos.
26 de Julho de 2003
*contemplação*:
a varanda é o lugar de onde o sonho se faz trajecto: um voo azulado e nocturno.
26 de Julho de 2003
*concretização*:
[por vezes]
sob o corpo aberto deste sol o silêncio torna-se tangível e até as pedras se enroscam
numa ternura de coração.
[por vezes]
28 de Julho de 2003Etiquetas: little black spot, minimal |
posted by saturnine |
21:20
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#3
substâncias #1
apesar de tudo inequívoco é que o instante passa e da espuma como da pedra também se esvai a substância
não resta senão um ponto ponto por onde recomeçar
a fragilidade da espera é ainda a eternidade possível.
26 de Julho de 2003
substâncias #2:
na densidade do sono o silêncio é espessura visível
que logo se perde e se esfuma se um leve estremecimento do corpo acaso ousa acordar recordando.
27 de Julho de 2003Etiquetas: little black spot, minimal, substâncias |
posted by saturnine |
21:19
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#2
angularidades #1
dizem que os dias arrastam a fibra da memória que te perderei algures numa dessas ruas em que não passa ninguém senão eu
ao dobrar uma esquina
por onde se curva a noite por onde espreita a morte.
23 de Julho de 2003
angularidades #2
porque me disseram que da flor se engendra a eternidade estendo um leque de acácias sobre o silêncio agudo dos dias
para que a minha boca inflamada de sal adquira desde já o contorno do teu nome.
23 de Julho de 2003
angularidades #3
dizem-me que nada do que rui subsiste que te perderei um dia quando aprender a perder-te como quem de súbito odeia o sol que lhe ilumina os passos
recortados de ângulos negros impossíveis.
24 de Julho de 2003
angularidades #4
a substância do meu cansaço a orla invisível do meu corpo como espuma branca
ou pedra sobre a falta.
25 de Julho de 2003
angularidades #5
quebrados os espaços o silêncio estilhaçado pelos cantos orlas negras de bruços os meus passos dispersos
o distinto nojo converte-se em consagrada indiferença.
26 de Julho de 2003Etiquetas: angularidades, little black spot |
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21:16
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[do peito para os dedos]
numa esquina de luz amarela numa mesa de muda intimidade um pássaro qualquer grita
ou canta.
16 de Julho de 2003Etiquetas: little black spot, minimal |
posted by saturnine |
21:11
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#1
um ponto negro emerge da escuridão. flutua pelo ar sem que se veja. mas por todo lado a sensação de uma noite mais profunda.
11 de Maio de 2003
preâmbulo
no quadriculado plano das ruas a luz desdobra-se lenta: silêncio e mar, ao largo.
I
o que de mim há na lisura deste chão é a sombra azul que projecto.
II
a ausência total do teu rosto semelhante ao quebrar da espiga: o vento uiva pelas manhãs.
III
a fragilidade exacta de dedos entrelaçados: um pássaro faz-se céu.
resolução
por vezes na inquietude da pergunta destila-se o rigor possível segundo o qual sobrevivo.
14 de Julho de 2003Etiquetas: little black spot |
posted by saturnine |
21:10
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Pré-mediterrânica
esperar como quem sobrevive à tarde morna e densa nas amoreiras
um quadrado de sol numa varanda silêncio no corpo de alguém
chega de longe um perfume desconhecido
- na polpa dos dedos o sabor doce das laranjas.
2 de Abril de 2007Etiquetas: mediterrânica, tangerina |
posted by saturnine |
19:44
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Um lugar onde pousar a cabeça
o coração quererá encostar ao ombro próximo, onde a respiração é mais fácil, onde há o consolo da familiar a boiar na calma de uma água verde.
2 de Agosto de 2006Etiquetas: before sunrise/before sunset, prosa, tangerina |
posted by saturnine |
19:40
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Til the day is done
há um lugar qualquer em mim em que tu ficaste. um lugar que eu reconheço nos tempos de silêncio cavado. tu sabes, há coisas a que só damos o devido valor passados anos. vieste, no mais improvável dos momentos, resgatar-me para o conforto de um abraço, morno, morno, como uma mão por baixo de uma camisola. esse lugar distante fala-me agora de coisas que pensava esquecidas, reconheço-te nas palavras gravadas no éter da memória e sim - lembro-me de tudo o que disseste.
2 de Agosto de 2006Etiquetas: before sunrise/before sunset, prosa, tangerina |
posted by saturnine |
19:39
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The great undoing
há horas difíceis, entre o sono e o medo: não saber se ainda (ou cada vez mais) é tarde ou se já (depressa demais) é cedo. sei apenas da sustentação improvável do meu corpo nesta hora de ninguém, rasgada de nenhum som, suada de nenhuma presença.
1 de Dezembro de 2006Etiquetas: a pedra de Sísifo, prosa, tangerina |
posted by saturnine |
19:38
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Sem título e bastante breve #1
posted by saturnine |
19:37
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Menina Tangerina
Aves de rapina na serra
O seu voo negro cruza o céu e a estrada assombra-se de silêncio nas giestas.
13 de Maio de 2006
há vida nos lugares por onde ninguém circula. uma vida muda, silenciosa, pacífica, sem dramas existenciais, sem qualquer conhecimento do abismo, só ali indiferente a tudo, à estrada, e ninguém pára para cheirar o ar da tarde.
25 de Maio de 2006Etiquetas: tangerina |
posted by saturnine |
19:28
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sexta-feira, 18 de maio de 2007
Insígnia
Aqruivo vivo de pedras e poemas. |
posted by saturnine |
23:14
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