sexta-feira, 13 de julho de 2007

 

 

 

 

outonal #1

foi com as árvores que aprendi a serena imobilidade das coisas perante o abandono e a morte. foi com as raízes que aprendi o gosto das mãos no interior da terra. foi com a certeza do húmus cheio de vida que aprendi a habitar as profundezas. os lugares chamam, e eu vou. tenho uma sede feita de estrada.

27 de Outubro de 2005







outonal #2

exceptuando o regresso necessário das aves aos ramos primaveris, e o abandono das árvores à pequena morte do frio, não houve uma única promessa que se tivesse cumprido.

14 de Novembro de 2005

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sabor

 

 

eu gosto daquele rapaz de olhos verdes na imensidão indizível das montanhas. gosto daquele corpo seguro todo erguido contra a noite, como um naco de terra. gosto da curva daquele abraço. contra a firmeza daquele corpo, a noite temível não pode. habito agora um lugar incerto na distância.

27 de Julho de 2005

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posted by saturnine | 18:50 | 0 comments

 

 

 

 

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hipótese

 

 

vou de peito aberto e vou com medo. que farei de mim se a terra não me acolher?

19 de Julho de 2005

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das coisas simples #1

não falamos dos livros nem dos discos nem das árvores nem do rumor próprio das noites de verão ou dos mistérios do universo. estamos parados dentro de um momento. só sei daquellos ojos verdes, uma faca encostada à minha garganta. não falamos das coisas nem da terra, nem do desconhecimento que temos dos caminhos um do outro. é possível estar-se apenas tranquila num abraço - eu moro num abraço que me sustenta. um corpo é quanto basta. há uma felicidade implícita em ser-se mínima.

17 de Julho de 2005





das coisas simples #2

há-de ser um cansaço, um excesso, um crescimento, mas eu já não sei escrever grandes cartas aos fantasmas ausentes. já não sei demorar-me sobre a falta, já não sei tratar por tu as grandes perdas. não há de mim o que sobre para os graves lamentos. o amor tornou-se uma coisa lenta e contida, à parte de mim. já não há rosto algum que substitua a minha vida. ainda que nada se cumpra, ainda que me doa a sede à boca da garganta.

18 de Julho de 2005

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o fogo no arvoredo

 

 

eu ainda não tinha dito da terra que arde e do quanto me dói a serra coberta de abandono e de morte. alguma coisa perdida na infância me prometia que um dia haveríamos de ser semelhantes às árvores. repito: está um calor impossível na serra. o ar pesado e morto por causa dos incêndios, tudo como se estivesse coberto de uma névoa escura, vestígios de cinza na roupa que fica a secar na varanda. não poder-se respirar senão a terra queimada. sentir que o corpo não tem lugar nenhum onde sossegue, no bafo quente da noite dentro da casa silenciosa. eu criei afectos com as árvores dos meus caminhos. não há palavras para este asco, se encontro negras e mudas as encostas que ainda há pouco me guardavam.

17 de Julho de 2005

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sur la plaine

 

 

sei que pertenço ao deserto quando me reconheço na respiração difícil da terra seca, no cheiro quente dos pinheiros e dos eucaliptos à margem da estrada, no silêncio que arde no chão no auge da tarde. tudo me chama para o sul - excepto a água, que me mantém emparedada na sede transmontana.

16 de Junho de 2005

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gestos mínimos

 

 

há demasiado mundo, demasiado sol, demasiada pele. existir assim tanto, num modo epicurista, pouco sobra para as palavras. morar dentro de uma água verde como fingir pertencer a uma moradia de férias. pela primeira vez, o verão chega-me a tempo e é bom não saber de mim.

9 de Junho de 2005

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sábado, 7 de julho de 2007

 

 

nocturna

 

 

dói-me a urgêncio do teu corpo
que a noite tumultuosa adia.

15 de Maio de 2005

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previsões de céu muito nublado (...)

 

 

antes,
o mundo inteiro um só
lugar do medo

agora,
que vivo de malas feitas
por todo o lado lugares da sede

o meu peito aperta-se na ausência
de um corpo transmontano
que eu amo.

11 de Maio de 2005

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da sede #1

a minha sede transmontana arde à boca da garganta. aquela água verde, afinal um deserto como os outros.

18 de Abril de 2005






da sede #2

um assombro é sempre um assombro. há pouco consolo nas manhãs luminosas para os que atravessam de olhos abertos as brasas da noite. não tenho modo de dizer: 'o teu corpo'.

18 de Abril de 2005






da sede #3

o que sobra de cada noite
é quase ter-te aqui


> o teu rosto vale a inflexão da luz
numa tarde de sol.



(aquellos ojos verdes)

8 de Abril de 2005






da sede #4

a minha sede transmontana é uma mão cravada na garganta, a contrariar o mundo. aquellos ojos verdes, um deserto a asfixiar-me o princípio de verão.

19 de Maio de 2005






da sede #5

onde a água é escassa
a terra respira
em lentas convulsões
arde o solo
e os corpos flamejam

17 de Junho de 2005






da sede #6

qualquer coisa se me acaba quando me afasto da febre do sol transmontano, daquela água verde onde o meu corpo encontraria sossego.

3 de Julho de 2005






da sede #7

é difícil esta contenção, como se não fosse ainda para hoje o teu corpo. não desabrocha, o verão.

4 de Agosto de 2005






da sede #8

tanto pedi que a serra de novo me chamasse. não devemos subestimar a força da terra. a sede transmontana chama-me de novo. e eu que agora não tenho como ir.

29 de Agosto de 2005






da sede #9

o meu silêncio é [ainda] um nó de sede apertado na garganta. aperta e arde, como uma febre. o que eu queria era só esse lugar onde pousar a cabeça, uma água verde, um colo transmontano.

10 de Dezembro de 2005

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dos oásis

 

 

na serra, onde o frio domina o excesso de espaço, onde cada lugar é ao corpo doloroso, rolar até ao outro lado da cama para alcançar o aparelho de música, é como atravessar um oceano inteiro — ou um deserto — em busca de água para saciar a sede.

29 de Novembro de 2004

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notícias do arvoredo #1

no alto da terra, não há notícias do mundo. o próprio arvoredo, nove dias encerrado em espessos muros de bruma densa, onde tudo parece acabar dois passos à frente, vertido num abismo doce e branco. no regresso, quase não reconheço o sol inesperado a surgir-me entre os ramos despidos das árvores do caminho.

22 de Novembro de 2004

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posterior

compreendo também
que me é insuportável esta hora
é tudo excessivo
mesmo a penumbra
animada de incertezas que abomino.

8 de Setembro de 2004





reconhecimento

a todo o momento espero
novo desastre
ou um qualquer improvável que me salve.

8 de Setembro de 2004






interior

a noite sobe os montes
é tempo de preparar
o aconchego para os mortos.

7 de Outubro de 2004





outonal

o medo desce a encosta
onde a noite é escura
lá no alto, o vento ruge.

8 de Outubro de 2004





reino

do alto da serra
a própria noite
vigia os caminhantes

16 de Outubro de 2004





quadro

todo o dia arrasto atrás de mim uma surdina, um rasto de outono.
negras caem as noites, em fogo caem as folhas.

16 de Outubro de 2004





abismo

onde a noite é ampla
e o silêncio profundo
mesmo o arvoredo é negro
e insondáveis são
os caminhos do medo.

20 de Outubro de 2004





precipício

na estrada cavada na serra
se a chuva enegrece a tarde
o medo faz-se vertigem.

31 de Outubro de 2004

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segunda-feira, 21 de maio de 2007

 

 

 

 

áceres no caminho:

sob o sol refulgem as folhas
como sanguíneas lâmpadas acesas.

4 de Dezembro de 2004

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interior

a noite sobe os montes
é tempo de preparar
o aconchego para os mortos.

7 de Outubro de 2004





outonal

o medo desce a encosta
onde a noite é escura
lá no alto, o vento ruge.

8 de Outubro de 2004





reino

do alto da serra
a própria noite
vigia os caminhantes

16 de Outubro de 2004





quadro

todo o dia arrasto atrás de mim uma surdina, um rasto de outono.
negras caem as noites, em fogo caem as folhas.

16 de Outubro de 2004





abismo

onde a noite é ampla
e o silêncio profundo
mesmo o arvoredo é negro
e insondáveis são
até os caminhos do medo.

20 de Outubro de 2004





precipício

na estrada cavada na serra
se a chuva enegrece a tarde
o medo faz-se vertigem.

31 de Outubro de 2004

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