domingo, 30 de setembro de 2007
Radio Sol
o verão está por toda a parte. pressentido nos muros que escaldam à emergência da tarde, nos corpos que se demoram a caminhar pelas ruas, nos rádios que tocam subitamente música antiga e fresca. como um cordão umbilical, a estação liga-nos à terra. saber que há um mar algures, cujas ondas rebentam, ritmadas, no seu perfume atlântico. desejar esse mar em antecipada alegria. há paragens distantes onde um coração pode ser feliz.
20 de Maio de 2007 Etiquetas: little black spot, mediterrânica, prosa |
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19:22
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De coração pequenino e apertadinho
num minúsculo ponto preto, outro coração também não caberia. esta noite, só me apetecia ajoelhar e chorar. há imagens absolutamente perfeitas, e o segredo do American Beauty reside numa delas: ter o coração tão cheio de comoção que parece um balão de ar quente prestes a rebentar. esta noite, só me apetecia ajoelhar e chorar. pensar sempre em demasiadas coisas ao mesmo tempo. o universo infinitando-se progressivamente, crescendo como se respirasse - inspiração, expiração, inspiração, expiração - como uma harmónica. e dentro dele, todas as coisas acompanhando essa respiração. os encontros, as paixões fulminantes, o arrefecimento, os desencontros, o afastamento, a queda para os escombros da memória, e eis depois, glorioso, o movimento reconciliador da inspiração: o regresso. das pessoas, das palavras, dos lugares conhecidos. respirando com o universo, todas as coisas regressam. e de comoção, esta noite, só me apetecia ajoelhar e chorar. no regresso a casa, a noite é um lugar semelhante ao corpo, inflamado, em chamas, afundado no breu. no carro, a Amy Winehouse a gritar you go back to her and I go back to black. só me apetecia ajoelhar e chorar. serpenteando através dos campos, a estrada nocturna é um lugar desabitado. poderia imaginar-me perdida, não saber de mim, se fingisse por um momento que não são estes os mesmos caminhos de todos os dias. na estrada, um cãozinho enroscado para dormir, que eu tive vontade de acolher, dar colo, cobrir com o espaço côncavo do meu corpo, porque um coração pequenino e apertadinho precisa sempre muito de dar um colo a alguém. só me apetecia ajoelhar e chorar. não ter palavras, saber que não há uma palavra que baste, que circunscreva, como um abraço, aquilo que designa. burilar, como uma pedra, a comoção. não ter um nome. se eu pudesse, esta noite ajoelhava e chorava.
18 de Maio de 2007 Etiquetas: a pedra de Sísifo, little black spot, noite, prosa |
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19:20
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o ponto de vista dos demónios #3
há Dylan Thomas por todo o lado, impregnado em cada fibra, como um perfume subtil: estou a entrar depressa na noite escura. sem amuletos, sem protecção, sem um segredo que nos guarde do sono acordado dos demónios. a noite é uma floresta negra, onde gigantescos braços como tentáculos nos alcançam e não nos seguram.
5 de Maio de 2007 Etiquetas: little black spot, o ponto de vista dos demónios, prosa |
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19:19
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pássaros feridos
todas as palavras que jamais poderiam ser pronunciadas jorrando pela boca fora como bandos de pássaros em fúria. estilhaços, projectéis, improváveis no olhar ferido que nos atravessa.
29 de Abril de 2007 Etiquetas: little black spot, pássaros feridos, prosa |
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19:19
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Hemoglobina
o mal maior, esse instransponível, é verificar que onde a respiração é difícil não é no lugar que se habita, mas no próprio corpo - e não há outro corpo para onde escapar. descansar, apenas. deixa-me só repousar aqui um bocadinho no teu tórax e já sigo o meu caminho. é frágil a matéria viva, sangra desalmadamente como um dedo cortado. 'os outros' é toda uma massa anónima distante que não reconheço. a familiaridade cortada à faca como nacos de carne, arrancada ao quotidiano pelos hábitos da misantropia. é-se tão fingida mas genuinamente feliz nas palavras. muitos vivas para a literatura. mas ninguém está presente naquele canto escuro, que tudo sabe, onde há fome e dívidas e memórias quebradiças de pessoas que seguem para longe e explodem - olha, como o Al Berto - como dois astros de éter.
28 de Abril de 2007 Etiquetas: little black spot, para uma anatomia das palavras, prosa, the woman who could not live with her faulty heart |
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19:17
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subterrânea
subterrânea. assim a memória do outono. mediterrânica, a antecipação do estio. com vida possível nas palavras, polidas de finas arestas como pedras brancas de uma varanda ao sol. fins de tarde coroados de silêncio ameno, um leve ardor de sal roendo a pele inflamada. som de água ao fundo, Vinicius, viagens imaginárias ao Mali, Singapura, fugas, memórias falsas de paragens exóticas. habitar um país possível, onde a respiração acompanhe o ritmo das sílabas. pe-dra - cin-za - a-mor - mor-te.
25 de Abril de 2007 Etiquetas: little black spot, prosa, terra |
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19:16
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Lunar Caustic
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19:15
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Ossanha Traidor
posted by saturnine |
19:14
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