sábado, 7 de julho de 2007

 

 

and when it rans, it pours

 

 

choveu primorosamente toda a semana. o vendaval é um dos sinónimos do medo. mas porque entramos no mês do escorpião, há de novo o sol. a minha rua encheu-se de folhas vermelhas. a cada sete dias o meu corpo regressa às cinzas. todos temos uma voz subterrânea. vivo agora de malas feitas e de coração nas mãos, não vá precipitar-se o dia de partir. já sinto o incómodo das mãos frias e o tempo volta a assegurar-me a primazia da desordem. uma parte de mim ama o caos. uma parte de mim é uma pessoa melhor do que ontem. já quase esqueci o teu rosto, só em sonhos me assombras. dizes-me da falta que, no fundo, não sentes. entrámos no reino da noite longa, e eu faço-lhe reverência no interior da casa - onde há um canto escuro, como se sabe, que tudo sabe. a música acabou, todos os sons estão infestados de demónios. Aimee Mann sobrevive. afinal, todos temos uma ferida que nunca há-de sarar. há muito mais coisas na vida do que o simples quotidiano dos afectos. só alguns filmes revelam a sua substância mais íntima. vivo desses pequenos nadas. agora que compreendo o abismo silencioso do arvoredo, estou mais próxima das coisas que doem, e mais próxima das coisas que vivem. o monólito é o outro sinónimo do medo. nas profundezas, há coisas maravilhosas e desconhecidas. por isso avançamos pela polpa negra das horas tardias. o que resta da música sustem-me. acabaram-se demasiado depressa os girassóis, as tardes quentes e os teus abraços. pela primeira vez, sou feliz à chegada do outono. mas pela primeira vez, a terra apanha-me a tempo. ainda que afeita ao avesso das coisas. há coisas sobre as quais não falamos. há magia por todo o lado, como nas histórias de crianças: há sempre aquele cujo nome não pronunciamos. coisas desfeitas, memórias desagregadas. face ao drama dos equívocos, mais vale voltarmo-nos para o firmamento, para o assombro da mais inexorável incompreensão. mas tu, não te enganes: nem todos os fantasmas têm o teu nome. há demasiadas coisas que as palavras não alcançam.

1 de Novembro de 2004

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posted by saturnine | 18:11 | 0 comments

 

 

 

 

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